segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

SOLTARAM UM (da série, TEXTOS DE SEGUNDA)




That´s some bad hat Harry.
do filme Jaws


É preciso histórias. É preciso recontá-las. Essa é só mais uma vez.

A dúvida amarra a religião, assim como a busca pelo dinheiro amarra o mercado e como gosto cultural amarra um povo. Japoneses gostam de peixe fresco. Sendo assim, o peixe deve ser pescado e imediatamente consumido, o problema está em não haver tanto peixe para ser pescado e consumido na costa do Japão. Há mais japoneses que peixes japoneses. Então a busca pelo dinheiro fez com que os barcos fossem cada vez mais longe, para pescar os peixes na quantidade necessária. O problema foi que devido à distância os peixes não voltavam frescos, e como já foi dito, japoneses gostam de peixe fresco.

Houve a idéia de congelar os peixes ainda nos barcos, que vinham de cada vez mais longe. Peixe congelado não é fresco, diria sabiamente um japonês. O que fazer então? Parar com os peixes? Não. Houve a idéia de criar tanques nos barcos. Os peixes não seriam mais pescados, seriam só, e somente só, capturados. Porém, vida em um tanque não é igual à vida no oceano. Os peixes, após poucas horas, estavam fatigados do seu próprio movimento, estavam rendendo-se à clausura forçada, deixando-se morrer, ficando assim, em um estado de pré-morte, com o gosto metafórico da tristeza e da desilusão. O gosto da falta de fibra daqueles que já não lutam, daqueles que só, e somente só, assistem ao espetáculo. São as crianças e os velhos, etários ou psicológicos.

Um peixe desiludido não é fresco, fato facilmente constatado pelo gosto japonês. Houve então a solução, não-óbvia, mas demasiadamente eficiente. Soltaram, em cada tanque, um tubarão. Se alguns peixes não foram comidos? Sim foram, mas os que restaram, como estavam vivos. Não há nada que faça sentir-se mais vivo do que a espreita da morte, o medo supremo batendo à porta do coração, causando a inquietação aguda da vida, a vibração típica do existir.

Ao invés de parar, complique. Só colocando um tubarão no tanque é que você verá o verdadeiro peixe. E assim pode até conseguir o sucesso... Como aqueles peixes, que após a grande luta, ganharam a glória de poderem ir, finalmente frescos, para o prato do freguês japonês.

3 comentários:

  1. Gosto desse texto, mas...
    "[...] daqueles que só, e somente só, assistem ao espetáculo. São as crianças e os velhos, etários ou psicológicos." Como assim? Crianças e "velhos" são apenas espectadores?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Quando muito pequenas ou muito velhas as pessoas não tem independência. O mundo é dos adultos. Neste sentido que quis dizer...

      Excluir